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Tendo, como tenho, muitas dúvidas sobre a instituição de quotas e de discriminação positiva de comunidades por raça ou género, pergunto-me (depois de passar uma tarde inteira em salas de espera de hospitais) onde estão estas pessoas representadas: asiáticos vindos da Índia ou da China, gente do Médio Oriente ou de África, brasileiros ou europeus do Leste — não no futebol ou na música, mas na política, por exemplo. Ao passar uma vista de olhos pelas listas de candidatos às autárquicas, qualquer um vê que esse défice de representação se deve sobretudo aos partidos políticos — não como “bandeiras da moda” (repetindo banalidades da bolha académica), mas em nome de pessoas reais que fazem os nossos bairros urbanos e suburbanos, as nossas escolas e empregos de gente invisível que paga os seus impostos e se integra, mal ou bem (mas sobretudo bem) no país onde vive. A lengalenga sobre migrantes não pode fazer esquecer essas pessoas reais, de várias origens, batalhadoras, que os partidos deviam também ouvir. Não, não é preciso mais uma lei — só mais inteligência e uma visão deste país.
Da coluna diária do CM.
É uma das canções da minha vida: «Parlami d’amore, Mariú», em napolitano, cantada por Vittorio De Sica (1901-1974). Estamos nos anos 30, e De Sica é então ator – e canta maravilhosamente. Canções de amor e comédias italianas sobretudo. Até que uma década depois começa a realizar os seus próprios filmes; em 1948 faz Ladrões de Bicicletas, ícone do chamado «realismo italiano» e Óscar de melhor filme estrangeiro; Duas Mulheres adapta o romance La Ciocciara, de Alberto Moravia, com Sophia Loren e John Paul Belmondo; Ontem, Hoje e Amanhã’ reúne Sophia Loren e Marcello Mastroianni (novo Óscar para melhor filme estrangeiro em 1964), e é com essa mesma dupla que no ano seguinte faz o igualmente divertido Casamento à Italiana e depois O Último Adeus, com argumento de Tonino Guerra; coroa glória, é ele o realizador de O Jardim Onde Vivemos em 1970, que adapta o belíssimo romance O Jardim dos Finzi Contini, de Giorgio Bassani – com um elenco inesquecível: Dominique Sanda, Helmut Berger ou Fabio Testi. Passam hoje 120 anos sobre o nascimento de Vittorio De Sica; é um grande dia.
Da coluna diária do CM.
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