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O cinismo.

por FJV, em 27.05.21

Às vezes tenho saudades, à esquerda, de um bom marxista encartado – com quem se podia discutir e de quem não começávamos por rir. A “nova esquerda” (um conjunto de teorias geralmente incompreensíveis, geradas nos departamentos de “ciências humanas” a partir de uma Bimby que funciona em alta velocidade). Em Inglaterra, um dos debates que tomou conta da nova temporada teatral pós-pandemia é a reabertura do Globe Theatre com um programa para “descolonizar” Shakespeare. Pobre homem de quem sabemos tão pouco (a pequena biografia de Bill Bryson é uma delícia acerca de coisas “que não sabemos”). O projeto é analisar cada linha das geniais peças de Shakespeare em busca de sinais (por exemplo, a palavra ‘fair’, que pode significar ‘clara’ ou ‘branca’) de racismo e colonialismo – não porque o autor tivesse sido racista mas porque não foi anti-racista. A ideia não é estudar Shakespeare; é servir-se dele para menorizá-lo. Os cacos que daí resultam são deprimentes. Quando não restar nada, nem teatro, nem poesia, nem alma, nem sombra de beleza, mas apenas cinismo – a tarefa estará completa.

Da coluna diária do CM.

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