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Joaquim Figueiredo Magalhães, grande editor português, fundador da Ulisseia, dizia (por graça) que para a boa fortuna de um livro “o que é necessário é que falem dele, ainda que seja bem”. Tudo mudou – e por isso volto ao tema da coluna de ontem, que falava do caso da biografia de Philip Roth, que editora Norton retirou do mercado depois de o seu autor ser acusado de conduta sexual imprópria. Antigamente, estes casos julgavam-se em tribunais – agora julgam-se na rua, na gritaria das redes sociais e na pressão muitas vezes intolerável para que determinado livro seja “cancelado” e retirado das livrarias. O PEN Club americano fala de “um ambiente de juízo moral e puritano”. As “boas causas” transformam-se em obsessões morais e os editores impõem aos autores cláusulas que lhes permitem rescindir contratos se houver “danos reputacionais” decorrentes do comportamento do autor ou da publicação das suas ideias. Dostoiévski, Cervantes, Camilo Castelo Branco, Luiz Pacheco, para não irmos mais longe, estariam hoje impedidos de publicar. Na Europa devemos erguer fronteiras contra esta barbárie.
Da coluna diária do CM.
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