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Maria João Abreu era uma atriz popular e isso era justo: na televisão, brilhava como uma figura inconfundível; no teatro, teve papéis importantes. Nos tempos em que a popularidade supõe quase sempre um talento histriónico ou a busca insistente na fama a todo o custo, ela desempenhava com naturalidade amistosa a sua maneira de representar, que era a sua vida. Teve, por isso, o favor das multidões e, mais, o favor das pessoas, o que é diferente. Não é pouco. Ser uma “figura de televisão” é correr sobre um abismo que devora quase toda a gente – ganham-se adversários inesperados e ressentimentos públicos e privados; Maria João escapou a ambos. Aos 57 anos é-se novo ainda e a morte é um castigo que não se merece; por ela e pelos que a amaram. Morre-se tão inesperadamente porque a vida é frágil e o dia de amanhã é mais do que uma fronteira desconhecida. Pensamos muito nisso à medida que os mais próximos são levados ou sentimos a ameaça da idade, da doença ou da tragédia. Somos pouco, somos o que somos. O adeus de Maria João é só um sinal dessa tristeza para a qual nunca estamos preparados.
Da coluna diária do CM.
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