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Demora a desaparecer a impressão causada pela leitura de O Túnel (1948), o pequeno (140 páginas) romance do argentino Ernesto Sabato onde se trata do estranho assassinato de Maria às mãos do pintor Juan Pablo Castel, seu amante, um argumento que apaixonou Albert Camus – o que ditou a feliz sorte do livro (em Portugal, na Relógio d’Água). Sabato, que nasceu em 1911, atravessou os anos trinta como militante e agitador comunista, condição que foi abandonando em favor de posições muito mais libertárias e pessimistas. Só isso explica a heterodoxia de Sobre Heróes y Tumbas, o seu romance argentino, propriamente dito (de 1961), e que depois conclui com Abaddón, el Exterminador (1974). Tudo o resto é ensaio, crónica, filosofia (sobre existencialismo, Borges, o seu país, o tango, a leitura, etc.), e uma procura dessa terra de ninguém que foi o seu não-alinhamento com a esquerda ortodoxa. Mas o que mais comove, para quem lê espanhol, é a riqueza da sua língua – que lhe valeu o Prémio Cervantes, por exemplo. Morreu há dez anos, assinalados hoje no livro dos justos e dos grandes criadores.
Da coluna diária do CM.
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