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Há trinta anos o Douro, que foi sempre pobre e desprezado, era um segredo escondido. Só lá se aventuravam iniciados que tinham nascido à beira do rio, amantes de vinhos densos e cheios de originalidade, viajantes meio despropositados, colecionadores de excentricidades, amantes de comboios e pessoas que procuravam uma tranquilidade que não existia em nenhum outro lugar. Não havia quem arriscasse; o Algarve estava mais à mão, o Alentejo estava na moda – o Douro era, digamos, extravagante e enigmático. Tudo mudou nestes trinta anos, e infelizmente nem tudo para melhor (é preciso arrasar monstros que defraudam a paisagem), mas noto que o comboio que acompanha o curso do rio acima da Régua e até ao Pocinho, o ‘Miradouro’, é cada vez mais famoso e procurado – quem conhece aquela geografia sabe que só de comboio (muito melhor do que de barco) se aprecia a beleza do rio e das suas margens. Enquanto espero que o comboio regresse ao trajeto Pocinho-Barca d’Alva, sonho com o calor, o silêncio, os vinhos e o céu do grande rio onde nasci. E aquela grandeza amável, poderosa e invencível.
Da coluna diária do CM.
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