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Durante os últimos anos, o «caso José Sócrates» – que é muito mais vasto – transformou-se num trauma português que ultrapassou em muito o duelo entre o juiz Ivo Rosa e os responsáveis pela acusação. Esse é um espetáculo pouco mais do que provisório; o trauma é mais vasto e tem a ver com o conjunto difuso de factos dados que o juiz já deu como provados ou se limitou a declarar proscritos. A partir daí, o antigo primeiro-ministro passa a ser uma figura de ficção; não de romance, porque não tem solenidade nem marca de grandeza, mas de pura ficção, onde quase tudo pode inclinar-se ou para uma sequência burlesca, à maneira de Balzac, ou para um final trágico. O trauma é o de um país pequeno, limitado ao seu vandalismo que se percebe à légua; as personagens são igualmente pequenas – vêm do quase nada, destinadas a perpetuar todos os vícios que viram nos outros como meios para coroar a sua ambição. Nada as desmobiliza: nem a verdade, nem a sensatez, nem o sentido das proporções. Só isso explica que, quando acusada de indignidades, a personagem declare ser isso uma enorme vitória.
Da coluna diária do CM.
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