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Há uns anos convidaram-me para falar no salão dos Leões da Lapa, associação desportiva e etnográfica da Póvoa de Varzim. Foi uma conversa de duas horas, a princípio tímida – depois retomada noutras circunstâncias. Nunca esqueci os Leões da Lapa. Na sessão, os homens trajavam de camisa aos quadrados, meia branca de lã, boina – e havia senhoras de saia de merino, blusa de renda e avental de risca. Era farda solene, de que eu conhecia só as camisolas poveiras. Mas estavam em desuso. Usei uma (em miúdos, passávamos férias na Póvoa) e, durante a adolescência e até hoje, as pessoas riam-se da ousadia. Que era piroso. Isto, claro, até Tory Burch ter copiado uma delas e anunciar que eram mexicanas. Escândalo nacional – e o governo, ridiculamente, a ameaçar processos judiciais. Quando alguém se escandaliza, desconfio. Durante anos, usar camisolas poveiras era sinónimo de provincianismo e piroseira. Parte dos que se escandalizaram agora também se escandalizaram quando o ministro Álvaro Santos Pereira propôs a internacionalização do pastel de nata. Em vez de se escandalizarem, mexam-se como deve ser.
Da coluna diária do CM.
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