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Quando as Escolas Fecharam

por FJV, em 02.03.21

Os livros sobre a pandemia (ou de filósofos que filosofam sobre a “ditadura sanitária”) não me interessam; estou farto. Por isso, a minha exceção é Quando as Escolas Fecharam, de Paulo Guinote (publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos) – mais do que um livro sobre o “confinamento escolar”, é um diário do isolamento a que fomos condenados e que nos sitiou durante meses. Sem “pontos de partida prévios”, sem condições, sem quebras, Paulo Guinote mostra-nos como as escolas são fundamentais para a estruturação das nossas vidas e como, por vezes, os dias que passaram foram episódios de um filme cómico povoado de personagens de Jacques Tati – apesar dos estudantes, das crianças, dos adolescentes, dos professores, dos pais, das casas de cada família, e das próprias famílias. Gostava que a leitura deste livro nos pudesse ajudar a compreender melhor o papel dos professores e a forma como (“lá em cima”) esse papel é ignorado e subvalorizado. Anotando as contradições do discurso oficial, os erros de palmatória das autoridades – e as nossas perplexidades –, o livro de Guinote é um guia destes tempos.

 Da coluna diária do CM.

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Um tradutor que seja de raça.

por FJV, em 01.03.21

Passo a explicar: em janeiro passado, na posse do novo presidente americano, Joe Biden, a poetisa americana Amanda Gorman leu o poema “The Hill We Climb” (“A Colina que Escalamos”, que deu o título a um livro seu), tornando-se na mais jovem autora a ser escolhida para essa cerimónia. Talentosa, negra, jovem (nasceu em 1988), com uma ascensão meteórica, bem paga – a escolha de Biden foi simbólica e bem acolhida. Tanto assim que as traduções dos seus poemas se sucedem um pouco por toda a parte, como nos Países Baixos, onde a prestigiada editora Meulenhoff se preparava para publicar o seu livro com tradução de Marieke Lucas Rijneveld, poetisa e ficcionista que no ano passado ganhou o prémio Booker. Acontece que, apesar do entusiasmo da própria Amanda Gorman, Marieke (nascida em 1991) é branca, o que gerou uma onda de protestos de “ativistas” na imprensa de Amesterdão: a tradução teria de ser entregue a uma pessoa “assumidamente negra”. A editora pediu desculpa; a tradutora, batendo no peito, pediu desculpa e aceitou não traduzir. Um mundo assim, dividido entre brancos e negros, dá pena.

Da coluna diária do CM.

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Imprevisibilidade.

por FJV, em 01.03.21

Ontem, o The Daily Telegraph fazia uma pergunta incómoda e, à primeira vista, ridícula: “Os casos de coronavírus estão a cair globalmente, mas a grande questão é: porquê?” A exceção parecem ser certos países onde houve um ligeiro aumento de casos (Irão, Iraque, Índia e Indonésia). No resto, parece que temos resposta: confinamentos brutais, primeira onda vacinação, uso de máscara (lembrem-se da máscara e do negacionismo da máscara), imunidade de grupo, cuidados pessoais. A maior parte dos cientistas sabe, no entanto, uma coisa perturbadora: que o vírus é “notoriamente imprevisível”. Nos primeiros dias da pandemia fui buscar o Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago, e A Peste, de Albert Camus, para ver o que nos esperava; voltei agora a esses romances, apesar do que ainda estamos tragicamente a viver – em ambos aparece uma misteriosa sensação: “E então, subitamente, tudo terminou.” Saramago, severo, reteve a lição da nossa desumanidade durante a “epidemia de cegueira”; Camus, melancólico, aceita a lição da imprevisibilidade, mesmo sabendo que um dia o vírus sairá do esconderijo. Regressámos a essa era, a da imprevisibilidade.

Da coluna diária do CM.

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