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Um dia, para vermos obras de Lucian Freud, teremos de ir à secção de velharias de um museu.
Por que razão têm as pessoas cada vez mais medo do passado? Porque não o compreendem, porque vê-lo dá trabalho e é necessário um pequeno esforço. Museus em todo o mundo estão cada vez mais interessados em “arte contemporânea” e em “desconstruir” a arte – do que mostrar as glórias do passado, cheias de sombras, destinos, pecados sociais e sexuais. Por isso, alguns museus parecem-se cada vez mais com galerias de decoração de interiores, onde as burguesias ricas e de “gosto cosmopolita”, ou oligarcas moderninhos, visitam oficinas de serralharia e de trabalhos manuais, com peças boas para colocar nos corredores dos seus apartamentos. O Museu Rainha Sofia, de Madrid, também vai rever toda a sua coleção (deixa apenas ‘Guernica’ de Picasso), para se centrar na arquitetura, América Latina, ecofeminismo, exílio, Trump e pandemia. Um dia, para vermos obras, já não digo de Gauguin, Rembrandt, Vermeer ou Dalí, mas de Lucian Freud, Júlio Pomar, David Hockney, Bacon, Georgia O’Keeffe, Cindy Sherman ou Paula Rego, teremos de ir à secção de velharias desprezadas. É tão fácil desprezar o tempo.
Da coluna diária do CM.
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