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Passam amanhã, 6 de março, 100 anos sobre a fundação do Partido Comunista Português. Desde aquele objetivo inicial de “transformação radical da sociedade capitalista em sociedade comunista” até aos dias de hoje, o PCP mudou como tudo mudou; Porém, ao longo de um século, nem adormeceu nem conseguiu ser uma força maioritária na vida portuguesa – mas já teve o seu papel decisivo e influente durante os anos 70, quando tentou apropriar-se do país. Tenho uma secreta admiração pela sua história; não por aquilo que o PCP é, ou defende e defendeu, mas pela sua dimensão de “personagem de romance”, marcado pela obstinação, capacidade de resistência, disciplina, espírito de sacrifício pessoal, sentido messiânico e episódios de heroísmo. Essa epopeia, em que Cunhal é o semideus e o grande arquiteto, só pode ser literária e marcada pelo sentimento de culpa, porque não é possível alguém defender os crimes do comunismo (ou absolvê-los) e ficar incólume. O messianismo comunista está hoje vivo em poucos lugares do mundo, mas permanece com Jerónimo de Sousa – na sua idade, no modo de falar, na cadência evangélica herdada de Cunhal, outra figura de romance.
Da coluna diária do CM.
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