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Amiguinhos que trocam censuras. Que pena.

por FJV, em 25.02.21

Em Espanha, a esquerda (ou, pelo menos, um dos partidos do governo) defende que a imprensa precisa de “controle democrático”, de escrutínio político. Em Portugal não é preciso que o poder se candidate a moralizar a imprensa. Cidadãos bem intencionados e na plena posse das suas faculdades declaram “não poder admitir” o “estilo acusatório com que vários jornalistas se insurgem contra governantes”, o tom das entrevistas (é preciso respeitinho) ou “os libelos acusatórios contra responsáveis do Governo e da DGS", ignorando que — em todo o lado, como escreveu Amartya Sen, são as perguntas da imprensa que impedem situações de maior risco. Sim, era preferível não haver imagens dos hospitais, das filas de ambulâncias, dos erros de planeamento, do silêncio dos que partem. Há pontos em que não é difícil concordar (e sobre eles o senso comum já nos alerta há muito) com esta Carta Aberta publicada anteontem (nomeadamente: o excesso de repetições, abuso de imagens dramáticas, a banalização da morte, longos telejornais) – mas, atrás de uma boa ideia, a tentação está lá, misturada com a defesa dos amigos (o que se compreende, devemos defendê-los). As “autoridades”, quando confrontadas, já criaram o rótulo de “anti-patriótico”; é sempre bom sabermos que gente tão bem intencionada também pode cair na armadilha de preferir a imprensa bem comportada, a aplaudir quando convém e a aconselhar moderação. Salvo quando lhes não convém.

Da coluna diária do CM.

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