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Pobre Eça.

por FJV, em 19.02.21

Em Itália há uma ONG que quer banir a Divina Comédia, de Dante (este ano comemoram-se os seus 700 anos), das escolas italianas, porque a obra – um dos livros essenciais da cultura ocidental –, “ofende homossexuais, muçulmanos e judeus”. Sejam bem vindos. Nada disto é novo. Em 1983, a esquerda francesa, através do jornal Libération, pedia que o governo de Mitterrand colocasse no índex (por “provocação pública e ódio sexista”) obras de Hemingway, Thomas Hardy, Rabelais, Madame Bovary, de Gustave Flaubert, todo o Kafka e a poesia de Baudelaire. Avancemos: ontem, 18, numa universidade americana, Darmouth (Mass.), uma investigadora fez uma conferência intitulada “É Os Maias um romance racista?” Pobre Eça, que tanto se preocupou com o racismo, a injustiça e a segregação. Nada disto é novo. Como não entendem nada de literatura, os ativistas dos cursos de letras preocupam-se com a “misoginia”, o “racismo” ou o “machismo” de Eça. Para os mais otimistas, aviso que nas nossas universidades vamos ainda ouvir falar do Pessoa racista & colonialista, do Camilo protofascista e misógino, do Camões e do Vieira imperialistas. Os tolinhos estão em todo o lado, e vão continuar.

Da coluna diária do CM.

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