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Eu gostava muito quando ela aparecia no ecrã. Tinha um ar doce e sorridente – Adelaide João passou por nós, por todos nós, com aquela graciosidade de senhora simpática, mas é importante que falemos do seu talento, da sua carreira no teatro, da popularidade na televisão que tanto a fazia desempenhar papéis de gravidade (em projetos de Artur Ramos, em textos de Camões, Arthur Miller ou Tchekov) como personagens de comédia. Não é fácil ser atriz de papéis secundários, estar na sombra e iluminar o palco, obrigar-nos a rir quando aparece (ela fingia maravilhosamente aquele seu ar desajeitado e desorientado), obrigar-nos a reconhecer nela uma mãe, ou uma avó, ou uma tia com quem gostamos de conversar precisamente sobre a telenovela onde entrava Adelaide João. Ou reconhecê-la nesse papel secundário sempre que nos cruzávamos com ela num filme (de Fonseca e Costa, Fernando Lopes ou Manoel de Oliveira, por exemplo). Houve magníficos atrizes e atores de papéis secundários (supporting actors sem os quais não há nada), Adelaide João era uma das nossas melhores, até anteontem, até aos 99 anos.
Da coluna diária do CM.
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