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O patriotismo é o último refúgio de um canalha. A frase é de Samuel Johnson (1709-1784), autor notável, e convém lembrá-la. Frequentemente, em circunstâncias funestas, críticas e dolorosas, invoca-se o patriotismo como uma espécie de benção e tábua de salvação. Não é. Temos uma ideia do que é patriotismo – mas não somos capazes de o definir. Como temos uma noção do que é a pátria – mas ela é várias coisas. Nos últimos tempos, as autoridades (um conceito que também é flutuante) insistem em que criticar o governo, duvidar das suas decisões ou discutir as medidas durante a pandemia – é anti-patriótico. Ou criminoso, até. Trata-se, naturalmente, de resultado do cansaço e da pressão extrema vivida no último ano, e só assim pode ser desculpada. Não encontro outra explicação porque uma acusação como essa é, sempre o foi, o último refúgio de um canalha. Em termos políticos é a expressão de um autoritarismo provinciano; no resto, é uma pulhice disfarçada. No momento em que diariamente morrem os nossos, anonimamente e sem qualquer outra proteção diante do silêncio, a acusação é vergonhosa.
Da coluna diária do CM.
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