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Lourenço, o nosso avô compreensivo.

por FJV, em 02.12.20

Não é verdade que Eduardo Lourenço (1923-2020), que eu recordarei sempre a sorrir, seja o mais influente pensador português de hoje. Para isso era necessário que tivéssemos aprendido coisas mais substanciais do que escreveu como um historiador – da literatura, primeiro, como espelho das nossas imperfeitas contradições; do “destino português”, depois, onde ele viu os nossos deslizes, obsessões e derrotas; finalmente, de tudo um pouco porque, tirando dois ou três títulos, Lourenço não criou um “edifício teórico”, um colosso filosófico, mas um observatório de onde, com a sua intuição, nos via cometer os mesmos erros de sempre. Durante muito tempo (40 anos a viver no estrangeiro, sobretudo em França) visitava-nos com a delicadeza e a compreensão que se devia a uma família de trapalhões por quem se tem interesse, depois afeto, e até amor. Com o tempo ficou mais irremediavelmente português. Compreendeu-nos bem, leu-nos melhor do que ninguém; sabia que todos nós, de uma maneira ou de outra, éramos demasiado portugueses. Merece todos os elogios. Era o nosso avô compreensivo.

Da coluna diária do CM.

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Espanhóis.

por FJV, em 01.12.20

É curioso que o autor do quadro conhecido como A Coroação de D. João IV, um emblema do 1.º de Dezembro de 1640 (o original está no Museu Militar de Lisboa), tenha sido pintado por um autor nascido em Espanha, em Orense. Maçon e republicano, Veloso Salgado (1864-1945) pintou D. João IV com o retoque de um monarca arrancado a um Velázquez cómico do Siglo de Oro barroco. Além disso, a mais popular representação da morte de Miguel de Vasconcelos (a quem atribuímos todos os males da dinastia filipina, apesar de ter sido primeiro-ministro apenas cinco anos) é de um pintor igualmente nascido em Espanha, Pontevedra, António Fernández (1882-1970). O quadro, que está no Brasil (para onde foi com a família aos 12 anos) tem, há que reconhecer, um certo ar de festa sevilhana. O único tom de drama e solenidade da data vem no quadro A Prisão da Duquesa de Mântua, do portuense Caetano da Costa Lima (1835-1898), onde Margarida de Sabóia, a vice-rainha espanhola, tem um ar amedrontado e conformado (o quadro está no Museu Soares dos Reis). Tinha de ser português, evidentemente. Tomem lá, espanhóis, para comemorarem o 1.º de Dezembro.

Da coluna diária do CM.

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