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O final do ano não está grande coisa. O ano não foi grande coisa, aliás – mas o quadro deste mês de dezembro é o de uma sociedade pulverizada por números manobrados e manipulados até ao absurdo. Os da pandemia, os das vacinas, os da TAP, os da ajuda europeia, os do campeonato de futebol. Transformámo-nos em profissionais da estatística. Diariamente, olhamos para os números de infetados, mortos, recuperados, ameaçados, fugitivos – cada vez com mais indiferença, e cada vez mais anestesiados. Num país onde o salário mínimo é de 700 euros, passámos duas semanas a discutir investimentos de milhares de milhões com dinheiro que ainda não temos numa companhia aérea que ainda não sabemos a quem pertence (na realidade, pertencer “ao Estado” é uma incógnita que nunca se resolve). Às terças (houve semanas atípicas com feriados) os números da pandemia ainda são baixos, mas há em cada um de nós um ser que desconfia. Desconfia do SEF e desconfia do ministro, desconfia da recuperação prometida para 2023 como desconfia do vizinho que foi visto sem máscara. O final do ano não está grande coisa.
Da coluna diária do CM.
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