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Para um dos seus melhores leitores e amigos, a obra de Clarice Lispector (1920-1977) não teria a ver com literatura, “mas com bruxaria”. Clarice, um dos mais importantes nomes da literatura brasileira do século XX, seria meio bruxa. Espaventosa. Estranha. Procurava a obscuridade, as poeiras que nunca assentavam. No momento em que o romance brasileiro se dedicava à luta política e a um certo regionalismo, Clarice publicava Perto do Coração Selvagem (1943). Eram os tempos de Jorge Amado, Erico Veríssimo, José Lins do Rego, Graciliano Ramos – mas os seus livros não se podiam incluir nesta vaga. Judia nascida na Ucrânia, de onde saiu com dois anos para se fixar no nordeste brasileiro, Clarice Lispector era um corpo estranho nesse mundo tropical; os seus livros aproximavam-na mais de Kafka, Sartre ou Joyce do que do “brasileirismo” de então – introduziam na nossa língua questões feministas e existenciais que a colocavam no lado sombrio da literatura, o que a valorizou muito como uma espécie de excepção no país do samba. A Paixão Segundo GH é, como A Hora da Estrela, um catálogo das suas obsessões sagradas. Passam hoje 100 anos sobre o seu nascimento.
Da coluna diária do CM.
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