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Como um meteoro. É assim que vejo Francisco Sá Carneiro (1934-1980), desaparecido há quarenta anos no trágico e ainda por esclarecer “acidente de Camarate”. Um meteoro que atravessou os anos derradeiros do regime marcelista, no qual não via solução; um meteoro que atravessou os dois anos da revolução bem como os da criação da democracia portuguesa – e um meteoro porque quis ser um homem livre no meio dos dois países provincianos em que viveu: o do marcelismo, com o seu autoritarismo, e o da revolução, com a obrigatória referência ao “socialismo militar” (contra o qual lutou) e à pequena moral anti-cosmopolita da época. Liberal que teve de ser “social-democrata” (é uma história cómica, mas verdadeira, a da sua conversão) num país empedernido, Sá Carneiro emergiu de uma geração de homens brilhantes e ambiciosos (Agustina fez-lhes o retrato em Os Meninos de Oiro, um romance grandioso) mas, reformista e enérgico, não contava com a tragédia de um destino demasiado curto, dominado pelos poderes do costume. Morreu aos 46 anos. Não deixou seguidores; só pessoas que não podiam senão admirá-lo.
Da coluna diária do CM.
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