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Não é verdade que Eduardo Lourenço (1923-2020), que eu recordarei sempre a sorrir, seja o mais influente pensador português de hoje. Para isso era necessário que tivéssemos aprendido coisas mais substanciais do que escreveu como um historiador – da literatura, primeiro, como espelho das nossas imperfeitas contradições; do “destino português”, depois, onde ele viu os nossos deslizes, obsessões e derrotas; finalmente, de tudo um pouco porque, tirando dois ou três títulos, Lourenço não criou um “edifício teórico”, um colosso filosófico, mas um observatório de onde, com a sua intuição, nos via cometer os mesmos erros de sempre. Durante muito tempo (40 anos a viver no estrangeiro, sobretudo em França) visitava-nos com a delicadeza e a compreensão que se devia a uma família de trapalhões por quem se tem interesse, depois afeto, e até amor. Com o tempo ficou mais irremediavelmente português. Compreendeu-nos bem, leu-nos melhor do que ninguém; sabia que todos nós, de uma maneira ou de outra, éramos demasiado portugueses. Merece todos os elogios. Era o nosso avô compreensivo.
Da coluna diária do CM.
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