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O meu primeiro contacto com Tolstoi (1828-1910) foi através da televisão – uma série histórica cheia de generais, aristocratas melancólicos, condessas russas, decotes, franceses enlameados e frases sonantes. A minha adolescência defrontou-se com os dois volumes de uma velha edição de bolso de Guerra e Paz (1869, uma edição Europa-América cuja lombada se desfazia de capítulo em capítulo), mas só em adulto completei a tarefa. Anna Karenina (1877), tal como Ressurreição (1899, outra edição histórica, a da coleção Unibolso) e A Morte de Ivan Ilitch (1886) vieram depois. Pelo meio, filmes e mais séries; é impossível ler todo o Tolstoi, e não sei se é desejável – porque se transformaria numa obsessão. Tolstoi é enormíssimo, monumental, um cineasta antes do cinema, um historiador percorrido por um arrepio moralista. Há grandes frases suas que, isoladas (como o início de Anna Karenina: “Todas as famílias felizes se parecem umas com as outras, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.”), são, ou instantâneos fotográficos ou parte de um programa político e religioso para mudar e orientar o mundo, que é o seu lado aborrecido. Morreu há exatamente 110 anos – assinalados hoje, como um inverno russo.
Da coluna diária do CM.
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