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É talvez do outono mas ocorreu folhear um álbum de Vermeer e deparar com esta pintura, “Vista de Delft”. Delft é a cidade onde nasceu e morreu Johannes Vermeer (1632-1675), um dos mais notáveis pintores holandeses, o autor de “Leitora à Janela” (de 1659), “A Leiteira” (de 1659), “A Aula de Música” (1662) ou o famoso “Rapariga com Brinco de Pérola” (de 1666). Há uma corola de nuvens sob um céu que já não é totalmente azul, e algumas pessoas estão à beira da água. As construções, vistas de longe, repetem essa suavidade, que deve ser aparente – quatro anos antes de concluir o quadro, Vermeer viu, de certeza, as ruínas que resultaram da explosão de pólvora que destruiu um terço de Delft, matando cem pessoas. Por isso, os telhados da cidade do quadro de Vermeer estão cobertos de cinza negra. Passados 360 anos, olhamos para o quadro e apreciamos essa tranquilidade, uma certa melancolia outonal sem vermos o drama anterior. Talvez daqui a 360 anos ninguém explique a estranha tranquilidade que se observa nas nossas cidades durante a pandemia. O tempo devora-nos, como à memória dessa paz de Delft.
Da coluna diária do CM.
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