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A notícia apanhou-me desprevenido e com pouco tempo pela frente: desde sábado passado que está interdita a pesca da sardinha. Portanto, parte do fim de semana foi ocupado com uma investigação patriótica em busca das derradeiras sardinhas frescas do ano, recolhidas nos últimos dias e transportando ainda o derradeiro odor de verão. Não o doce perfume do bronzeador, não o do outubro tépido que ainda faz recordar a passagem das coisas – mas o da sardinha, nem sempre agradável, ligado à mesa do verão. O despacho do Diário da República não transmite esta tristeza; é frio como uma lâmina: já atingimos a quota atribuída; a partir de agora nada de sardinha. É pena. A ocasião devia ser solene e grave, com as altas autoridades da nação anunciando que uma parte das nossas vidas se interrompeu. Todos os anos aguardamos pela temporada em que a sardinha é tão gulosa como o nosso apetite; e de repente, com um decreto, anunciam-se meses de penúria. Por isso, quando ontem separei a derradeira espinha da derradeira sardinha, despedi-me por longos meses, cheio de melancolia no cartão de cidadão.
Da coluna diária do CM.
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