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Aqui e ali, pelo que vejo, há vários programas para artes ou literatura “sustentáveis” e ao serviço das grandes causas do mundo de hoje. Escritores e pintores, músicos e performers anunciam “obras de arte” dedicadas a alertar-nos para a necessidade de salvar o mundo com a “adoção de novos comportamentos”, prestando mais atenção ao ambiente e à natureza, ao tofu e à beringela biológica, ao “empoderamento” feminil, aos recursos naturais e à proximidade com os nossos semelhantes, contra o extremismo ou os materiais corrosivos. Podiam ser estes temas ou outros. Antes, poetas escreviam, músicos compunham, pintores pintavam – e não estavam à espera de receber indicações (quer de Estaline, de Mao ou Salazar, de Mussolini ou do Mahatma Ghandi, do mestre-escola ou da Secretaria de Estado do Abastecimento e Preços) sobre os temas a tratar. Hoje, os artistas, resignados à sua função benfazeja, colocam-se “ao serviço do bem” e produzem coisas que vão bem numa sala de tias austeras, mestres de moral e pessoas chatas. Shakespeare, Caravaggio ou Eça tiveram sorte em viver antigamente.
Da coluna diária do CM.
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