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Foi num verão de há muitos anos que li Bel Ami, de Guy de Maupassant (1850-1893). O efeito nunca mais passou, o que se compreende: não há narrador tão chocante no meio da literatura que se lê em plena adolescência. Tolstoi admirava-o e considerava Uma Vida, o primeiro dos seus romances, um dos maiores monumentos da literatura francesa. A esta distância, imagino o encontro de monstros entre Maupassant, Flaubert (seu protetor), Zola e Turguéniev, em casa do autor de Madame Bovary – daria para um outro livro. Maupassant tinha o espírito de um cronista (foi jornalista) e a curiosidade de um folhetinista melancólico mas cheio de atenção à venalidade da época. Em Bel Ami quase tudo é pecado, sobe e desce social, cupidez, erotismo e tristeza. O seu pessimismo é altíssimo (nunca foi alinhado politicamente, o que é uma vantagem), não tem o riso nem a bílis de Balzac, e seguramente não tem o preciosismo de Flaubert: mas o resultado é um retrato da França. 170 anos depois (que se assinalam hoje), ninguém conseguiu mostrar como Maupassant a natureza subterrânea dessa mediocridade. Puro génio.
Da coluna diária do CM.
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