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Porque é que ouvir Bach é sempre maravilhoso, mesmo quando parece chato? Porque voa. Concertos para orquestra, música de câmara, cantatas e obras corais, oratórias, missas, peças para solistas de violoncelo, violino, viola, alaúde, flauta, orgão – tudo voa, tudo esvoaça, tudo se repete como um momento original, tudo na sua obra é um diálogo entre o vazio e a plenitude, entre a solidão humana e as melodias de um Deus furioso, obstinado e poderoso. Tudo na sua obra voa, flutua, vai e vem ao sabor de fórmulas de rigor matemático – a música de Johann Sebastian Bach (1685-1750), de quem hoje passam 270 anos sobre a sua morte, é uma das provas da existência da beleza e da possibilidade da sua transcrição em partitura. Ouvi-la é já uma forma de recompensa puramente espiritual, ultrapassando o enlevo do melómano ou o simples prazer do iniciado, e essa é uma das razões porque pergunto “porque é que ouvir Bach é sempre maravilhoso, mesmo quando parece chato?” Porque é como as suas suites de violoncelo: uma recordação da misteriosa alegria que prolonga o tempo. E às vezes não consigo explicar.
Da coluna diária do CM.
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