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Nascido no século XIX, Salazar (1889-1970) pairou sobre o século XX. Com Cunhal e Soares forma uma trilogia dominante da nossa história política – António Barreto publicou agora um livro sobre essas três figuras. Porém, 50 anos depois da sua morte (que passam hoje), à maior parte das pessoas (sobretudo das chamadas “novas gerações”) Salazar há de parecer apenas uma caricatura. Não é. Sob o pálio redundante do rigor na contabilidade da pátria, estava quase tudo o resto: o catolicismo de cacique, o desprezo pelos que o apoiaram (da igreja aos militares, e os inteletuais), a democracia e a América (com a sua perversão nos costumes e a captura do poder pelos grupos de pressão) como o pavor diante da queda do império, dos tempos modernos e da “maluqueira que anda por aí” (escreve-o num bilhete sobre o escritor Ruben A.). Sim, produto do seu tempo, claro. Da vetusta Coimbra e da ideia de um país rural, modesto, modelado por “valores inflexíveis”. Há também a caricatura, sim, que é fascinante. Não é por acaso que a melhor aparição de Salazar na literatura seja num romance de Baptista-Bastos.
Da coluna diária do CM.
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