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O sofrimento dos que ficaram invisíveis.

por FJV, em 17.07.20

Um dia pensaremos melhor no “confinamento”. Recordo aquela manhã de Abril em que, quando ia trabalhar, encontrei um único carro em 15 quilómetros da auto-estrada do Estoril (é certo que sou madrugador). É difícil isso repetir-se; neste caso, o deserto não era uma metáfora mas um retrato do real. Em Cidade Suspensa, um pequeno e belíssimo livro a ser publicado por estes dias pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, o fotógrafo Miguel Valle de Figueiredo e o escritor Bruno Vieira Amaral apresentam Lisboa deserta durante o “estado de emergência” – o que era um animal vivo e circulante é, nestas fotografias e nestes textos, representada como uma espécie de fantasma com interrupções de luz trazidas por pessoas que caminham solitárias nas ruas, ou levam uma criança a tomar ar ou, como eu e muitos outros, iam trabalhar mais ou menos às escondidas. Cidade Suspensa ficará para a história – Miguel e Bruno dão-nos um retrato que dificilmente poderemos explicar senão pela abundância de fantasmas e de vazios silenciosos durante este período. E de sofrimento dos que ficaram invisíveis.

Da coluna diária do CM.

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