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Um dia pensaremos melhor no “confinamento”. Recordo aquela manhã de Abril em que, quando ia trabalhar, encontrei um único carro em 15 quilómetros da auto-estrada do Estoril (é certo que sou madrugador). É difícil isso repetir-se; neste caso, o deserto não era uma metáfora mas um retrato do real. Em Cidade Suspensa, um pequeno e belíssimo livro a ser publicado por estes dias pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, o fotógrafo Miguel Valle de Figueiredo e o escritor Bruno Vieira Amaral apresentam Lisboa deserta durante o “estado de emergência” – o que era um animal vivo e circulante é, nestas fotografias e nestes textos, representada como uma espécie de fantasma com interrupções de luz trazidas por pessoas que caminham solitárias nas ruas, ou levam uma criança a tomar ar ou, como eu e muitos outros, iam trabalhar mais ou menos às escondidas. Cidade Suspensa ficará para a história – Miguel e Bruno dão-nos um retrato que dificilmente poderemos explicar senão pela abundância de fantasmas e de vazios silenciosos durante este período. E de sofrimento dos que ficaram invisíveis.
Da coluna diária do CM.
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