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O autocarro 750 vem de Algés e, quando é abordado no Campo Grande, em Lisboa, está a abarrotar de gente e o próximo da linha só chega daí a 45 minutos; por isso, quando chega, desfaz-se a fila onde se tenta, na medida do possível, manter a distância física (que os tolos teimam em chamar “distanciamento social”). Neste pico do verão, os vidros estão fechados e não há ar condicionado. As pessoas saem, entram – vão trabalhar ou regressam a casa. Esta imagem não está nas reportagens que as televisões bem educadas fazem sobre teletrabalho, ioga em casa e comida entregue pela UberEats – mas é real para quem não vive na bolha com acesso às pantalhas. São pessoas que têm medo, não discutem as “letalidades” nem o “achatamento da curva”, nunca fizeram teletrabalho e têm famílias à espera. Como as pessoas a quem a DGS recomenda que higienizem com gel os empilhadores, gruas, pás e martelos das obras, onde devem manter 2 metros de distância dos outros trabalhadores. As pessoas do 750 levantam-se às quatro, cinco da manhã. Vêm de todo o lado, mas não estão nas estatísticas. Não são visíveis.
Da coluna diária do CM.
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