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Como assassinar o ensino do Português.

por FJV, em 13.07.20

Fiquei preocupado ao perceber que os alunos tinham de optar entre Os Maias (720 páginas, edição de bolso) e A Ilustre Casa de Ramires (368). Mas quando li – depois de muita insistência – o exame de Português do 12.º ano, no qual se pedia para “comparar” dois trechos destas obras, confirmei que há mesmo inteligências estapafúrdias (e não falo já do todo da prova, que é tola e orelhuda). Vamos ao Eça: Os Maias é a obra definitiva de Eça, o momento mais alto, retrato romanesco da pátria lisboeta, uma ópera familiar; optar, em contraponto, ou complemento, pela Ilustre Casa (vamos e venhamos, um livro para ler de modo totalmente irónico e zombeteiro), é uma tontice – quando existem A Cidade e as Serras ou A Relíquia, melancolias e malandrices de Eça, geniais de estilo ou de erotismo, já para não falar de O Primo Basílio. Os alunos que leram ou um ou outro (Os Maias ou A Ilustre Casa), só podem comparar os dois trechos não percebendo metade deles, recorrendo a banalidades e cópias das minutas de preparação para os exames. Assim também se assassina o Português. Nos exames.

Da coluna diária do CM.

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