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Lamento desiludir-vos, mas a ‘literatura pós-pandemia’ pode ser apenas mais aborrecida do que a ‘literatura pré-pandemia’. Durante três meses, a maior parte dos escritores e autores ‘confinados’ viveram a realidade do isolamento (estar em casa) – e, mal saíram dela, participam em ondas de literatura bondosa sobre como foi dramático estar isolado, como a sua bolha se tornou mais bolha ainda, e como sofreram com isso. Ao contrário do horror vivido durante a ‘gripe espanhola’, em que grande parte das pessoas estava ocupada a sofrer, a morrer e a cuidar dos vivos, a Covid colocou os escritores na net, conferenciando pelo Instagram ou pelo Zoom. Os desafios é observar os silenciados deste tempo: os que nunca pararam de trabalhar e não faziam ioga em direto no Facebook ou os que perderam vidas próximas. A literatura precisa – é uma maneira de dizer – de sofrimento, crueldade e maus sentimentos. Conflitos e combates. Pelo que vejo, há muitos escritores a falar de vida saudável, do seu isolamento e da falta de atenção que não merecem, coitadinhos. É mais aborrecido ainda do que antes.
Da coluna diária do CM.
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