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Camões.

por FJV, em 16.06.20

Fora da escola, onde é submetido à leitura por obrigação, hoje em dia ninguém liga grande coisa a Os Lusíadas, uma epopeia tão amarga como ensandecida de humor, guerreira ou melancólica, cómica ou apenas clássica (e superior à Eneida). Desde o século XIX que Camões, infelizmente, é sinónimo de patriotismo. Primeiro, pela mão dos republicanos, que procuravam uma bandeira; depois, pela do Estado Novo; depois, alternadamente, ora pela “esquerda cívica”, ora pela “direita da tradição”. De fora fica Camões como um génio a ler, reler, comentar. Pobre homem, Camões. De arauto das glórias e penumbras do Império a vate do imperialismo e do colonialismo, foi um salto – e correndo agora o risco de ser apeado de onde quer que esteja. Nestes dias de tolinhos à solta, apetece-me ler Os Lusíadas de novo. O brasileiro Rubem Fonseca, relembrava-nos esse dever: “Para quem ler? Estávamos no século XVI e muita pouca gente em Portugal sabia ler. Mas Camões pensou nesse punhado de leitores, era para eles que Camões escrevia, não importava quantos fossem eles.” Somos nós que lhe damos vida.

Da coluna diária do CM.

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