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Há tempos apareceu um grafito nas paredes de Lisboa: “Camões, o totó do imperialismo colonial esclavagista.” De seguida, houve um protesto contra a estátua do pobre Padre António Vieira, que o inefável Mamadou Ba classificou como um “esclavagista seletivo”, e depois a obra de Fernão Mendes Pinto foi retratada como “propaganda do imperialismo”. Recentemente a campanha atingiu Fernando Pessoa, que expendeu opiniões racistas, tal como suponho que aconteceu com Eça e muitos escritores anteriores ao século XX. Os debates em redor das figuras da nossa cultura são úteis e ninguém é inquestionável. Isso é uma coisa, e não retira uma vírgula de talento ou de génio a Vieira ou Camões; outra coisa é fazer uma “limpeza” como os fascistas e os comunistas fizeram nas suas ditaduras, “higienizando” o passado de acordo com os olhos e as obsessões de hoje. George Orwell previu o cenário em 1984: tudo (livros, pinturas, estátuas, efemérides e toponímia) seria varrido e só existiria o presente, no qual estariam sempre certos os novos tiranos e o seu olho vigilante. É o que se prepara.
Da coluna diária do CM.
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