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Fala-se em “linhas vermelhas” – devia, antes, falar-se de um “abismo negro”, devorador. O mal não é apenas uma categoria filosófica ou religiosa mas um vírus que anda à solta depois de se ter alojado em silêncio. Comhecemo-lo. E é nele que penso quando reconstituo o egoísmo cruel que leva à violência, a violência que leva ao homicídio, o abandono das crianças (e a indiferença com que acolhemos os sinais de perigo), a inaptidão para lidar com a vida, a estupidez que leva ao horror. O crime de Atouguia da Baleia relembra tudo isso mas, sobretudo, a improbabilidade de imaginarmos um crime assim: um pai que mata uma criança (numa casa onde existem outras duas crianças), a testemunha de uma madrasta cúmplice, um corpo ocultado e abandonado. Quando escrevo “nenhum de nós é capaz desse horror” quero dizer que o abismo negro escapa a qualquer explicação – a não ser pela abundância do mal, a ponto de se transformar numa força demasiado poderosa. Diante disto, o castigo só pode ser uma pena inimaginável, porque se o mal não tem castigo então não vale a pena existirmos com os outros.
Da coluna diária do CM.
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