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O francês Ernest Pinard foi ministro do Interior, procurador e membro do Conselho de Estado – e distinguiu-se, sobretudo, por ter sido responsável pelos processos de “imoralidade” contra Baudelaire (por causa dos poemas de Flores do Mal), Eugénie Sue (Os Mistérios do Povo) e Gustave Flaubert (Madame Bovary). Não conseguiu nada contra Flaubert (1821-1880), que foi absolvido e agradeceu a publicidade a Madame Bovary e à sua preciosa história de adultério, decadência e pequena miséria provinciana. Pinard podia ser personagem de Flaubert, e deve ter sido, mas ficou como uma anedota censória, como os inteletuais de esquerda franceses que, na década de 80, assinaram uma petição para retirar Flaubert das bibliotecas, sob a acusação de sexismo, pensamento antidemocrático, misantropia, reaccionarismo e pessimismo. O autor de Educação Sentimental, Salambô ou Bouvard e Pécuchet é ainda o génio do mal e da minúcia, impossível de domesticar, sempre em busca do absurdo e da beleza, que andam de mãos dadas. Passam hoje 140 anos sobre a sua morte e é sempre bom festejá-lo.
Da coluna diária do CM.
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