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De Uma Carta no Inverno. 1997.
Fotografia de Alfredo Cunha.
Dentro de dois anos o regime saído do 25 de Abril terá a idade daquele que o antecedeu – e haverá ainda gente a descobrir-lhe inimigos. Não é possível celebrar cinquenta anos de regime como se ele estivesse em perigo iminente, como nos anos de 75 e 76, ou antes de os militares (a quem se agradeceu devidamente) regressarem aos quartéis e “entrarmos na Europa”, o que consagrou uma nova fase da nossa História. Celebrar o 25 de Abril com o mesmo tipo de cerimonial dos anos 70 e 80, com os mesmos discursos, cantilenas e pavores – é uma alegria que se concede à meia dúzia de saudosistas cuja existência é pouco menos do que uma curiosidade folclórica. Sinceramente, lendo-os um dia depois, os discursos do 25 de Abril não comovem ninguém para lá dos seus exercícios de boa retórica (o do PR especialmente) – foram o que foram, mas não dizem nada de novo para lá da “urgência” e da “necessidade” de “celebrar Abril”, como se o dia fosse, não uma festa, mas uma espécie de fatalidade zangada com o nosso destino. Isto transformará qualquer celebração, não num ritual, mas numa comédia dispensável.
Da coluna diária do CM.
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