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Nada vai ser como dantes. A ministra da Saúde usou ontem a frase para falar da incerteza que aí vem – felizmente, nem a incerteza nem a frase lhe pertencem. A incerteza é de todos nós, e por isso preocupamo-nos todos os dias ao ver como o país precisa de recuperar, de regressar, de sair de casa para respirar e trabalhar. Quanto à frase, tem sido usada sobretudo por economistas e políticos para nos avisar (como se não soubéssemos e fôssemos todos funcionários com emprego garantido) dos maus tempos que se aproximam. Compreende-se: diante da catástrofe, qualquer coisa menos grave do que a morte transporta consigo um clarão de otimismo, e fazer perguntas, querer uma informação, apontar erros ou esboçar uma crítica será, em breve, uma manifestação de “anti-patriotismo” em tão grave clima de emergência. Acontece que governar não é promover a incerteza ou a suspeita como horizonte, sobretudo quando os portugueses aceitaram de forma tão madura as restrições (e as impuseram, aliás, contra a opinião das autoridades) e sofrem em silêncio o confinamento. Era bom ter cuidado com as palavras.
Da coluna diária do CM.
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