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Na rádio, logo de manhã, oiço pessoas que estão em casa a falar comigo – cumprem a sua função, até exigindo que eu fique em casa. A mesma coisa na televisão. As “redes sociais” estão repletas de gente angustiada por estar em casa, exigindo que eu esteja em casa, falando dos problemas de estar em casa. Pessoas que há dois meses falavam em dietas detox e atividades aeróbicas, estão hoje a aconselhar-me, na rádio, na televisão, na net, sobre como ficar em casa. Eu sei que é preciso ficar em casa. Mas gostava que se falasse das pessoas que não podem ficar em casa, porque são também os meus heróis, e não me refiro aos mais evidentes, os médicos, enfermeiros, os que trabalham nos hospitais. Os bombeiros. Os militares e os polícias. Na limpeza dos escritórios e das ruas. Na recolha do lixo. Nos lares, amparando os velhos. Nas padarias e supermercados. Taxistas e condutores de comboios e autocarros. Camionistas que atravessam o país. Penso neles ao cozinhar legumes frescos. Os agricultores. Os que vêm reparar um muro que caiu. Os que vendem um jornal. Os que abrem uma porta. O pão de cada dia.
Da coluna diária do CM.
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