Palavras e frases do ano houve bastantes. Mas talvez a de Greta Thunberg fosse a mais divulgada em todo o mundo – uma espécie de birra adolescente: “Como se atrevem?” A pergunta era dirigida à assembleia da ONU e o “atrevimento” a que Greta se referia era o da inação relativa às alterações climáticas, que não encontra solução na assembleia de diplomatas (como se viu na cimeira de Madrid), mas na vida de todos os dias, com a cooperação de cientistas, de políticos e da nossa boa vontade. E também não se resolve apenas com a indignação adolescente (no mundo desenvolvido onde a questão é consumir menos), por mais legítima que seja. Mudar de vida leva anos num mundo desigual e injusto (parte dele, em África e na Ásia, luta por consumir mais e adequadamente), apesar de o folclore da mudança ser insuportável e cheio de hipocrisias ideológicas. “Sustentabilidade” é uma dessas palavras na moda, boa para ‘marketing’, que quer dizer tudo e quase o seu contrário – nada. Mudar de vida não é mudar de palavras nem de atrevimento; muitas vezes é recuperar um modo de vida mais simples.
Da coluna diária do CM.