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Ah, os paradoxos da “arte”. Os livros que o ex-ministro Manuel Pinho destinou à reciclagem – a lista inclui títulos que não me importava de ter – foram transformados em “material de arte” por Alexandre Estrela numa exposição que decorre no Porto (na Sismógrafo) até dia 25. Não é a mesma coisa que o mictório que Marcel Duchamp expôs em 1917 e que se tornou célebre por levar a sua assinatura – mas não deixa de ser uma espécie de ‘ready-made’, ou seja, um objeto vulgar que passa a objeto de arte porque o artista o escolhe como tal. Os livros, isolados e anónimos, despejados num contentor, seriam apenas material de papel que, de forma chocante, foram transformados em lixo; mas, sendo propriedade de um ex-ministro da economia (a maior parte deles versando economia) a braços com a justiça, passam a ser evidência de desperdício inteletual e, para todos os efeitos, de livros deitados fora – tendo já sido selecionados para a biblioteca de uma faculdade de economia. Pode não ser “arte”, claro, mas o episódio já é uma lição: livros não são coisas para abandonar. Ou transformam-se em vergonha.
Da coluna diária do CM.
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