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Há qualquer coisa que não está bem nesta declaração do Presidente da República acerca da “capacidade de resistência” da sociedade portuguesa, ou seja, do “povo”, uma palavra que está em natural desuso. Acontece que não é a primeira vez que o PR deixa clara essa distinção entre “o povo” e “as elites” – e se faz essa distinção é para, na sua magistratura de multidões, apadrinhar o povo e deixar uma crítica às elites (que, já agora, o Presidente representa como ninguém). Pessoalmente, compreendo as palavras do generoso católico Marcelo Rebelo de Sousa; mas, historicamente, elas recordam passagens menos edificantes do discurso das elites sobre “o povo” – este, seria naturalmente bom e capaz de aguentar com um sorriso na boca os sofrimentos, a pobreza, a desventura, os maus governos, as patifarias que lhe cometem. Há algum tempo apareceram políticos a usar a palavra “resiliência”, que infelizmente não pode proibir-se, para falar dessa capacidade de os portugueses resistirem às adversidades que as elites ou provocam ou desculpam com certa brandura. Há qualquer coisa que não está bem.
Da coluna diária do CM.
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