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Todos os anos, por esta semana – até um pouco mais cedo – sinto uma grande ternura pelo bacalhau. Pelo bacalhau que os dietistas abominam e eu acho uma das grandes descobertas da humanidade: seco, salgado, poeirento. Hoje em dia já não se encontra com facilidade o velho bacalhau totalmente seco (é vendido mais húmido e com mais peso). Seguem-se uma série delicada de etapas: que seja cortado como merece; levá-lo para casa; olhar bem para ele; com cuidado, cortar-lhe uma lasca e comê-la à sorrelfa (saboreando o pecado do sal), antes de sujeitá-lo à operação da demolha, sobre a qual há truques que ninguém partilha. Enquanto isso decorre, pronunciar em surdina palavras estranhas que, isoladas, podem não fazer grande sentido: cozido, com grão, à Brás, à Gomes de Sá, arrozinho, de cebolada, em filetes, pataniscas, bolinhos, em cataplana, à Narcisa ou bracarense, em lascas – todos temos uma lista assim de memória. Esta temporada de enamoramento pelo bacalhau é, ou devia ser, um dos passos essenciais para obter o Cartão de Cidadão. Os senhores deputados que vejam e legislem.
Da coluna diária do CM.
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