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Dois dos meus discos são Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, e Margem de Certa Maneira. Estão lá grandes canções como “Queixa das Almas Jovens Censuradas” (o belo poema de Natália Correia), “Perfilados de Medo” (poema notável de O’Neill) e outras da dupla com Sérgio Godinho. Também conservo os vinis dos anos de fogo, com o GAC/Vozes na Luta (A Cantiga É uma Arma e Pois Canté), curiosidades da revolução, e uma das primeiras cópias de FMI. José Mário Branco (que também passou pelo teatro) era um excelente compositor e um cantor como gosto: a sua voz não se confundia com nenhuma outra, grave, de uma austeridade solene, irónica e amarga. Não é preciso ser da sua companhia política para o ver como um grande músico e uma referência para as “novas gerações”, mesmo se alguns apenas agora descobriram a sua genialidade de compositor. Esses discos antigos, Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades e Margem de Certa Maneira (de 1971 e 1973) – e outras que estão no duplo Ser Solidário, como “Inquietação” – são obras de um grande e indiscutível talento que mudou a nossa música.
Da coluna diária do CM.
A morte de José Mário Branco transformou-se num espetáculo mais ou menos cruel; de cantor talentoso e compositor de excelência (não retiro uma vírgula ao texto acima), passou a falar-se de um “combatente pela democracia” e, logo a seguir, de um expoente do pensamento político. Combatente pela democracia, concede-se – JMB esteve no exílio, lutou contra o regime, foi uma voz importante e decisiva; mas o seu “pensamento político” não era propriamente democrático (e nunca o foi, o que não é pecado) ou, sequer, sério. Esta unanimidade sobre os “combates pela democracia” farão com que, um dia destes, escutemos o dr. Marques Mendes a cantar “FMI“ ou o PR a trautear cantigas do ‘A Cantiga É uma Arma’.
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