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Tirando a versão expressionista do “feminismo radical” e do “anti-racismo” identitário da deputada Joacine Moreira, é mais do que positiva a sua eleição, juntamente com Romualda Fernandes ou Beatriz Gomes Dias – as três de origem guineense. Portugal tem falta de cor nas televisões, no parlamento, nos partidos e em outros lugares de visibilidade pública. No parlamento estiveram pessoas de origens não-europeias (goesas, moçambicanas, timorenses ou angolanas), mas a verdade é que nos faz falta essa presença e representação, que eu gostava que fosse maior – não como voz enclausurada de minorias, mas como lugares plenos que também servissem de estímulo e motivação a outros. Devíamos ter mais visibilidade para pessoas de origem chinesa ou timorense, caboverdiana ou russa, angolana ou indiana, brasileira ou ucraniana. Sei que vou ser acusado à esquerda de neocolonialista ou à direita de traidor, mas Portugal deve incorporar culturas de quem nos procura ou de quem encontrou aqui a sua casa – além de melhorar a nossa lei da nacionalidade. Para já, espero que sejam exemplo para mais.
Da coluna diária do CM.
Hoje é atribuído o Nobel da Literatura. Aliás, dois Nobel da Literatura, uma vez que o prémio não foi anunciado em 2018 depois de uma série de trapalhadas relacionadas com assédio sexual na Academia Sueca (mais propriamente, pelo marido de uma académica). Para a nova época do Nobel, moderna, conforme aos ditames da época, depois do #metoo e da descoberta de que existia mundo para lá de Estocolmo, a Academia Sueca resolveu rejuvenescer, tornar-se os seus critérios mais “femininos” e menos “eurocêntricos”. Se alguém quiser discutir o assunto, eu faço um desenho depois – mas o essencial é isto, independentemente das escolhas de hoje: se o Nobel já não tinha grande prestígio, a partir de agora tem ainda menos. Fui um dos que passou parte da vida a dizer que o Nobel era muito fechado na cultura europeia e americana e que desconhecia outros mundos e outras línguas – mas que escolhessem pela qualidade, não pelos critérios da moda. Posso enganar-me, naturalmente, mas, depois de ver a nova moral em vigor, era melhor entregarem o Nobel da Treta em vez do Nobel da Literatura.
Da coluna diária do CM.
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