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Com o tempo, a memória esvazia-se, desculpa este e aquele pequeno escândalo, encolhe os ombros. Vem isto a propósito de um amigo que, arrancando parte substancial dos cabelos e da paciência, se lamentava da falta de qualidade dos guiões do cinema português. Sem querer desiludi-lo, regressei a um tema grato, o do livro As Conversas Secretas do Clã Espírito Santo, de Sílvia Caneco (Esfera dos Livros). Volto a essas páginas gloriosas e à minha impressão da época, 2015: a certa altura, à mesa da reunião, um cavalheiro confessa que esteve toda a noite a estudar os acordos de extradição do Panamá com Portugal: “Só para verem, nem dormi.” Depois, outro deles diz que estavam lá (no Panamá) 300 milhões; alguém o desmente – são 400. Não, é mais: 920 milhões naquele país com “a arquitectura de Miami e a desorganização da América Latina”. E para lá ele não ia, tinha medo. Não é como no Brasil, onde há “tipos que me fazem segurança à noite.” “Estamos a mandar dinheiro para fora outra vez. Estou para ver como é que a gente paga isso.” Se isto não é cinema puro não conhecem a malandragem.
Da coluna diária do CM.
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