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José Afonso teria completado 90 anos na passada sexta-feira. É um dos autores mais geniais e completos da música portuguesa, e reduzi-lo à sua dimensão puramente ideológica é um mau serviço prestado à sua obra e à sua imensa criatividade. Inclusive, há discos de Zeca Afonso que, mesmo marcados ideologicamente de forma tão intensa – resultando do fervor político dos anos de 1974 a 1979 – devem, a esta distância, ser objeto de uma releitura estética (casos de Com as minhas tamanquinhas ou Fura fura). Essa redução ideológica é empobrecedora e muito querida dos medíocres cujo nome se salva na nossa memória apenas pelos favores da política – mas José Afonso é uma grande, enorme, formidável exceção. Quase todas as suas canções sobreviveram ao tempo e algumas são um relâmpago genuíno da melhor música. Em 1987, na sua morte, houve quem não o homenageasse devido a essa marca ideológica. Foi um erro. Era preciso libertar José Afonso dessa sobrecarga. Hoje, isso é possível – porque ele é grande, enorme – apesar dos que o querem ouvir ou dar a ouvir sob grilhetas tão estreitas.
Da coluna diária do CM.
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