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Alhos e talhos. As causas de hoje.

por FJV, em 03.07.19

Apaixonam-me as “causas” atuais. No domingo passado, o Sunday Telegraph publicava uma carta de um leitor (é uma secção imperdível na imprensa inglesa) que tinha escolhido o alho como alvo da sua paixão pelo Brexit: agora que o Reino Unido ia sair da União Europeia, era a altura de salvar a honra da pátria deixando de cozinhar com alho, legume que, na sua pateta ignorância, é coisa de franceses. Gente para tudo. Por falar em França, em 2018 houve cerca de vinte ataques a talhos e peixarias, que foram vandalizados por militantes veganos e vegetarianos, defensores dos direitos dos animais e outras variantes do ecologismo urbano-burguesoide de hoje; na semana passada houve uma manifestação aguerrida contra o consumo de carne e peixe, protagonizada por gente dedicada a salvar o mundo pintada de sangue falso ou maquilhada de sereia. Porém, como a bondade extrema é uma coisa violenta, dedicaram-se também a partir vidros de lojas de alimentação. Ironia do destino, um dos militantes animalistas mais aguerrido foi mordido por um cão-polícia sem paciência. O humor nunca dorme.

Da coluna diária do CM.

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Rui Rio: que nada nos incomode.

por FJV, em 02.07.19

Há, em certos povos, uma predisposição genética para o apaziguamento e para o desinteresse no intervalo de comportamentos suicidas. Tem vantagens, naturalmente – enquanto dura o efeito, a vida parece alimentada por uma beleza rara. Repare-se que não critico (pelo menos asperamente); antes, compreendo: a vida é curta, o verão está cheio de promessas, há apetite, e Rui Rio, com aquele tom de oficial de diligências, é bem capaz de ser um tipo aborrecido. E ele não é exemplo. Mas ouvir um membro do governo dizer que há filas para os serviços públicos porque os utilizadores resolvem utilizar esses serviços também não soa bem. O assunto do prédio Coutinho, se pensarmos, passa ao lado; um dia vem mesmo abaixo. Tal como as urgências dos hospitais, o nível do endividamento, o controle da justiça, a doutrinação nas escolas, o episódio de Tancos, as cativações forçadas, o dinheiro dos bancos ou a imunidade perpétua das elites às acusações de corrupção. Apaziguemos. Vem o verão. Desinteressemo-nos. Eu compreendo bem a doutrina do otimismo a todo o custo: que nada nos incomode. Nem os incómodos.

Da coluna diária do CM.

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O anti-semitismo básico.

por FJV, em 01.07.19

O semanário londrino Observer de ontem, domingo, publica um artigo do escritor Richard Zimler (de nacionalidade americana e portuguesa, como sabemos, autor de O Último Cabalista de Lisboa, entre muitos outros): nele, Richard fala do processo de boicote ao lançamento da edição inglesa de O Evangelho Segundo Lázaro (Porto Editora), pelo simples facto de ser judeu. Organizações que tinham manifestado interesse na promoção e apresentação do livro fizeram saber, amedrontadas, que “tinham perdido todo o interesse” depois de saberem que se tratava de um escritor judeu. Não um escritor pró-Israel (Richard criticou várias vezes, e sempre abertamente, as políticas de Nethanyahu), mas um “escritor judeu”. Este clima de anti-semitismo, básico e horroroso, não existe apenas em Inglaterra – onde a perseguição pública a cientistas, autores, artistas e professores judeus, fomentada pela atual liderança dos trabalhistas, tem sido agressiva, tonta e permanente. Está espalhada um pouco por toda a parte, como uma espécie de vírus doentio que nada, nem “as políticas de Israel”, podem justificar.

Da coluna diária do CM.

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