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Há, em certos povos, uma predisposição genética para o apaziguamento e para o desinteresse no intervalo de comportamentos suicidas. Tem vantagens, naturalmente – enquanto dura o efeito, a vida parece alimentada por uma beleza rara. Repare-se que não critico (pelo menos asperamente); antes, compreendo: a vida é curta, o verão está cheio de promessas, há apetite, e Rui Rio, com aquele tom de oficial de diligências, é bem capaz de ser um tipo aborrecido. E ele não é exemplo. Mas ouvir um membro do governo dizer que há filas para os serviços públicos porque os utilizadores resolvem utilizar esses serviços também não soa bem. O assunto do prédio Coutinho, se pensarmos, passa ao lado; um dia vem mesmo abaixo. Tal como as urgências dos hospitais, o nível do endividamento, o controle da justiça, a doutrinação nas escolas, o episódio de Tancos, as cativações forçadas, o dinheiro dos bancos ou a imunidade perpétua das elites às acusações de corrupção. Apaziguemos. Vem o verão. Desinteressemo-nos. Eu compreendo bem a doutrina do otimismo a todo o custo: que nada nos incomode. Nem os incómodos.
Da coluna diária do CM.
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