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A Páscoa judaica celebrava-se cerca de mil anos antes de Cristo, assinalando a libertação dos escravos hebreus no Egito. Jesus celebrou essa Páscoa e transformou-se no intérprete de outra – que trata da sua vida, morte e ressurreição. A leitura dos evangelhos canónicos (respetivamente de Mateus, Marcos, Lucas e João) é uma experiência literária cativante e, para os cristãos, uma travessia da história. É curioso que, mesmo para não crentes, dois mil anos depois estes textos continuem a despertar uma torrente de interrogações, espantos, entusiasmos e emoções – que me interessam mais do que a fé absoluta. Falar disto é uma espécie de despropósito num mundo que reduz a Páscoa a confeitaria e chocolate, mas acredito que vale a pena insistir. Todos os anos há uma celebração importante a registar – mas sempre em nome da liberdade: ou em nome dos escravos que se libertam e atravessam o deserto, ou em nome de quem se liberta da lei da morte através de uma mensagem inovadora e tão cheia de ironia como de promessa. É isso que celebramos todos os anos. Boa Páscoa.
Da coluna diária do CM.
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