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Uma pessoa começa por ler as notícias sobre a nomeação de familiares (e relativos”, resumindo) para cargos políticos no Estado com alguma distância, esperando para ter o retrato completo. Depois, a lista aumenta e torna-se preocupante. Já aqui escrevi que o mais grave de tudo não é o escrutínio destes casos presentes – mas o que a situação revela quanto à endogamia da classe dirigente, ao seu escol de cumplicidades e à falta de mobilidade social que lhe está na base desde o século XIX. Ao contrário do que se diz, a campanha contra esses casos de familiaridade excessiva (não parece haver ilegalidade flagrante em nenhum deles), que acabam por constituir uma rede de amizades, não é a demonstração do “desespero da direita” diante dos sucessos governamentais, ou uma patetice que antecipa a silly season. É, além de tudo o resto, uma questão de pudor social. E de falta de elegância no exercício do poder e nas nomeações para cargos não eleitos que dependem de confiança política e pessoal. O The New York Times ficou espantado com o despudor. Nós não ficamos espantados mas também não apreciamos o gesto.
Da coluna diária do CM.
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